segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Publicado há 142 anos!?...


 
O governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo.
Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo:
- Empréstimos e impostos.
Por outro lado, o governo mandou para as cortes uma carregação de propostas tendentes todas a aumentar de tributos; por outro lado, o governo vai negociar um empréstimo no estrangeiro.
É dinheiro emprestado e dinheiro espoliado.
Pede-se primeiro aos agiotas para pagar às camarilhas; depois tira-se ao povo para pagar aos agiotas!
E ao passo que se trata de um empréstimo em Londres, negoceia-se outro empréstimo com bancos nacionais.
Este tem carácter de dívida flutuante (1) interna e é para pagamento de dívida consolidada (2) externa!
Este empréstimo que nos está às costas para pagamento no fim de três meses sai á razão de 13/2 %!
E no fim não é dinheiro aplicado a nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida!
É a dívida a endividar-nos cada vez mais! É a dívida a crescer para pagar as sinecuras do estado! É a dívida a multiplicar-se para não faltarem à corte banquetes, festas, caçadas, folias!
Esta situação é terrível e tanto mais que ela exige para se não agravar, de sacrifícios com que o país não pode e que de mais não deve fazer, quando eles são apenas destinados às extravagâncias da corte e ao devorismo do poder, no qual se inscreve agora o novo subsídio aos pais da pátria!

Em A Lanterna, 17 de Dezembro de 1870. em Maria Luíza Guerra, ob. cit.

(1) Dívida pública a curto prazo.
(2) Dívida pública sem prazo de reembolso

Sem comentários:

Enviar um comentário