sábado, 31 de dezembro de 2016

Requalificação dos Olhos de Água de Ota



REQUALIFICAÇÃO DOS OLHOS DE ÁGUA DE OTA
DEVE SER PAGA PELA EPAL

A requalificação dos olhos de água de Ota é uma proposta que acaba de ser eleita para financiamento pelo Orçamento Participativo, mas na verdade, se este local precisa de ser requalificado, é porque a EPAL o artificializou.
A EPAL está instalada no concelho de Alenquer há dezenas de anos, onde detém duas captações subterrâneas de grande relevância, em Alenquer, e em Ota. Muito antes da água canalizada chegar às aldeias do concelho, já as águas aqui captadas pela EPAL serviam para abastecer Lisboa e os concelhos limítrofes. As captações do Alviela, actualmente improdutivas, e o seu aqueduto (que atravessa Alenquer), tornaram-se conhecidos, por funcionarem desde finais do século XIX, mas na verdade as duas captações de Alenquer, têm maior potencial produtivo do que o Alviela e contribuíam com mais água para a EPAL do que o Alviela, quando estava activo.
Nestes sete anos (ver tabela abaixo), a EPAL captou em Ota volumes médios anuais de cerca de 5,2 milhões de metros cúbicos.
E o que deu a EPAL ao concelho de Alenquer, em compensação pelas imensas riquezas naturais que aqui explora? Nada. Relembramos que segundo a DECO, a população de Alenquer pagou em 2015 a factura da água mais cara da região de Lisboa e Vale do Tejo e uma das mais caras do país (Revista Proteste, Julho/Agosto de 2016, pág. 25). Na verdade, apesar de a EPAL estar instalada em Alenquer, nem sequer é a EPAL que abastece o município, mas a Águas do Oeste, uma empresa do grupo Águas de Portugal à qual a EPAL também pertence, e à qual vende a água que depois é comprada por Alenquer.
Antes da instalação da EPAL em Alenquer, a Lapa dos Morcegos, que agora brota apenas em anos excepcionalmente pluviosos, brotava com maior frequência, e se Alenquer foi vila pioneira na industrialização do país, deve-o à sua riqueza em águas subterrâneas, que forneciam ao rio que atravessa a vila caudal suficiente para garantir às fábricas que aqui vinham instar-se, a força motriz de que necessitavam.
A zona dos olhos de água, no rio de Ota, terá sido em tempos uma zona de lazer para a população local, inclusive, no verão, a zona balnear local. Este sítio terá permanecido natural durante muito tempo após a instalação da EPAL, mas, em determinada altura, a intensificação da agricultura com o uso de fertilizantes químicos e agro-tóxicos, a pecuária intensiva, e os esgotos urbanos, tornaram o caudal proveniente de montante numa ameaça poluente para as captações da EPAL, e esta pavimentou com betão armado algumas dezenas de metros do curso do rio junto ao local onde está instalada.
Actualmente as águas do rio de Ota apresentam coloração límpida, mas, dados recentes, indicam que continuam poluídas. Segundo o relatório do Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Tejo e Oeste para 2016-20120, que apresenta fichas de caracterização para todos os cursos de água, o estado ecológico do Rio de Ota, tanto ao nível biológico como químico, é Medíocre (quando já deveria ser Bom), e o Relatório de Geologia do estudo de caracterização do Canhão Cársico de Ota, recentemente elaborado no âmbito do projecto de protecção deste Monumento Natural, apresentada análises detalhadas às águas do Rio de Ota (págs. 52 a 64), onde pode verificar-se que a poluição é caracterizada essencialmente por coliformes fecais e enterococos fecais.
A requalificação dos olhos de água constitui uma excelente oportunidade para enfrentar de vez o problema da poluição do rio de Ota, o que é facilitado pelos dados dos estudos recentes, visto reduzirem as suspeitas à pecuária, à ETAR de Atouguia, e a eventuais esgotos urbanos a descarregar directamente para as linhas de água.
Quanto às obras necessárias à requalificação deste local, se foi a EPAL que o artificializou, é de elementar justiça que seja esta empresa a pagar a sua renaturalização. Para além de constituir um ato de cortesia com uma terra onde há tantos anos explora riquezas naturais sem nada deixar em troca.

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